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Comprei uma quinta para um projecto autossuficiente.. E agora?

in Jardim/Horta
Comprei uma quinta para um projecto autossuficiente.. E agora?

Agora é o momento de planear e implementar todas as ideias que tem em mente! Da casa, à horta e ao terreno, vamos tentar fazer um plano que se desenvolva ao longo do tempo da forma mais eficiente e apropriada ao local o possível.

As abordagens e práticas agrícolas alternativas, conhecidas pelos métodos orgânicos, biológicos ou regenerativos, aproveitam os ciclos naturais e potenciam-nos de forma natural para uma maior sustentabilidade e produtividade. Técnicas básicas como rotação de culturas, adição de esterco animal, leguminosas e cereais para adição de carbono, adubos verdes, sementeira directa, estilha das podas, adição de minerais e controle biológico de pragas são técnicas que se ouvem falar cada vez mais. Mas compostagem, swales ou curvas de nivel, keyline, policultura e consociação de espécies, micorrizas e micélio ainda são conceitos pouco conhecidos que merecem mais divulgação.

Escolas como a Permacultura, a Agricultura Sintropica, a Agricultura Selvagem ou Natural, a Agricultura Regenerativa, entre outras, integram soluções para todas as escalas que permitem um aumento da produção com o mínimo de custos e impactos possível – logo mais eficiente no retorno de investimento global. No entanto, estas abordagens implicam maior investimento e conhecimento inicial, pois traduzem-se em métodos policulturais integrados que requerem produzir diversas colheitas e gerir ecossistemas.

Estas quintas são pensadas ao pormenor de raíz para a máxima eficiência e máxima sustentabilidade, revelando-se cada vez mais uma séria opção para quem quer ser mais autosuficiente e mais ecológico.

Os elementos base para análise das principais escolas alternativas à prática convencional

Fatores a ter em conta para montar a sua quinta auto-suficiente

Clima

Conhecer o clima regional e local é fundamental como ponto de partida. E planear nesse sentido. Por exemplo, nas zonas de ventos e geada, tipicamente a norte, podemos precisar de sebes naturais para protecção das zonas de produção. Pelo contrário também podemos precisar de zonas sombreadas para o verão, que sejam mais frescas e húmidas. O clima e os micro-climas do nosso terreno definem a estrutura da cobertura vegetal que podemos instalar.

Comece com bom conhecimento do mapa do seu terreno e da sua região e compreenda o clima local, as variedades regionais e as culturas apropriadas à sua região. O fator agrícola mais permanente é o clima e é fundamental para todos os aspectos da sua produção. Amplitudes térmicas, exposição solar, vento, geada, distribuição anual de humidade e chuva – essencialmente, estas são as regras do jogo.

Árvores e vegetação presente no terreno

Seja espontânea seja plantada certamente teremos alguma vegetação presente no terreno, que teremos de avaliar a utilidade no ecossistema e design. A leitura da vegetação também indica em que estágio da sucessão natural o terreno se encontra e qual o seu nível de saúde e quais as deficiências. A diferente vegetação que possa surgir ao longo do terreno também vai dando sinais da humidade, tipo de solo, deficiências ou excessos, entre outros sinais que temos de aprender a ler. Vamos ter de tomar opções de tirar e substituir parte da vegetação e coberto de árvores, melhorar o solo com coberturas permanentes de plantas úteis para o nosso ecossistema.

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Geografia

É fundamental conhecer os contornos do terreno, a sua geografia. É ela que conduz a água e que podemos tanto manipular com usar na disposição dos diversos elementos que pretendemos instalar. Se o clima estabelece as regras, a geografia é o tabuleiro sobre a qual se joga. Estes dois fatores formam o ambiente base da sua propriedade. Em propriedades junto a ribeiros e linhas de água é normal encontrar terraças ou lameiros, com muros de pedra, noutras zonas ou tipos de terreno com declive poderemos usar diversas técnicas para melhorar a retenção e condução de água, a própria plantação de árvores, acessos, etc.

Vegetação nativa

É fundamental conhecer a vegetação tradicional da região, as suas espécies, as suas produções e transformações. Tanto ao nível silvestre como agrícola, são uma base de possibilidades para a auto-suficiência e também uma base para potenciais retornos comerciais.

Abastecimento de água

A água é fundamental e o primeiro nível de design: seja através de manipulação da geografia com vista à criação de lagos, diques, mini-barragens, curvas de nível ou swales, até piscinas naturais, ou pela via de tanques de armazenamento, é fundamental garantir disponibilidade de água de qualidade e idealmente por gravidade para evitar bombas. Água de qualidade e com disponibilidade para o fornecimento que precisamos – em ultimo caso recorrendo à captura de água da chuva para armazenamento e uso no verão. Fundamental é garantir que as águas cinzentas ou castanhas saiam tratadas e reutilizadas onde conveniente, para total eficiência deste recurso. O saneamento também tem de ser definido, separado das águas reutilizáveis das estruturas.

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Estradas e acessos

Uma parte fundamental da primeira análise são as estradas de acesso, trilhos e caminhos. A disposição destes define a circulação geral na quinta e é fundamental para garantir que todos os recursos cheguem a todos os pontos necessários. Imaginando o trabalho diário entre horta, animais e respectivas compostagens, e demais actividades do dia-a-dia, há um conjunto de circuitos que devemos facilitar e integrar no design do espaço.

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Edifícios

Primeiro é resolver a questão da habitação, se possível integrando soluções que permitam ser offgrid: soluções a lenha eficientes para cozinhar e lavar, assim como uma boa dispensa para gerir todo o alimento que se vai ter. Aquecimento de águas solar, energia hídrica, eólica ou solar, são tudo soluções que devem equacionar de raíz.

A seguir à habitação precisamos de estruturas para oficina, maquinaria, ferramentas, recursos (palha, cartão, por exemplo). Depois de construir ou renovar zonas de arrumos e materiais, talvez a pensar em estufas, viveiros de plantas, estruturas para animais, e por aí fora.

Ao introduzir novas estruturas deve pensar no melhor acesso mas também onde faz mais sentido. Os edifícios não devem estar excessivamente expostos mas devem ter boa exposição solar e proteção dos ventos, e devem estar em zonas de boa acessibilidade. Certas estruturas podemos precisar diariamente, outras serão úteis ocasionalmente: o bom planeamento põe as estruturas mais necessárias perto da casa!

Cercas, sebes e vedações

As cercas podem ser também consideradas como parte da infraestrutura, apesar de menos permanentes do que outros componentes de infraestrutura.

Primeiro é vedar o terreno na sua fronteira exterior, depois são as vedações dentro do terreno que permitem gerir a deslocação de animais. Os galinheiros também têm de estar bem vedados para proteger de predadores, por exemplo. Deve considerar cercas fixas, com postes e redes, que separem as zonas de pasto das zonas agrícolas, e usar vedações móveis para divisões temporárias dentro dos pastos. Se temos porcos e galinhas, por exemplo, precisamos de vedações flexíveis e móveis numa estrutura base bem pensada para que os animais circulem e trabalhem para nós nas zonas onde precisamos do trabalho deles – por exemplo limpar e fertilizar o pomar (quando maduro), limpar as hortas entre produções, etc. Os animais são introduzidos no sistema na medida que o sistema permitir, dentro das limitações físicas e da maturidade do projeto. A divisão planeada do terreno permite melhor gestão do sistema.

Solos

Melhore o seu solo, para um ecossistema cada vez mais produtivo e fértil.

Um solo pobre pode ser transformado em solo fértil, e ele é de importância primordial em qualquer desenvolvimento agrícola. O segredo está em acompanhar o ciclo natural da compostagem, seja na adição de matéria seca como cobertura de solo permanente em todos os espaços, seja na compostagem de todos os recursos da quinta para alimentar todas as suas produções.

Por esta razão, ao desenvolver uma quinta deve estar a construir o seu solo desde cedo. O objetivo é melhorar a fertilidade do solo para que ele possa fornecer os máximos benefícios quando você plantar suas culturas, e que elas também contribuam para alimentar e enriquecer esse mesmo solo.

Técnicas simples podem ser usadas para construir o solo: compostagem, biofertilizantes, micorrizas, minhocas. Mas antes de mais garantir que o seu solo tem uma cobertura morta: uma camada de material seco em permanente decomposição. Seja na horta ou no pomar, ou na floresta comestível, o objectivo é ter sempre uma camada de mulching que mantém a humidade, melhora a biodiversidade do subsolo, fertiliza o solo, entre outras funções.

Árvores, plantas, arbustos

A próxima etapa é listar, plantar e estabelecer os principais sistemas vivos da quinta: pomares, bosques, florestas agrícolas, pastagens, hortas, hortas de cozinha, jardins, etc.

Deve começar pelas sebes, vedações e barreiras naturais contra o vento para proteger as suas zonas de produção, tal como as zonas de animais e as zonas sociais e habitação. Uma vez que tenha isso pronto pode começar a plantar as zonas de horta, pomar, bosque, floresta.

A densidade das árvores dependerá da secção da quinta em que se integram (sebes, pomares, floresta, etc) e espécies seleccionadas.

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Animais

Na natureza, os solos são formados em conjunto com os animais, são parte integrante da ecologia regenerativa. Eles são a chave para a maturação de qualquer sistema perene, pois nenhum ecossistema pode atingir seu potencial total sem animais. A progressão natural é introduzir os animais uma vez que você tenha estabelecido suas árvores, sebes, vedações e estruturas de apoio, e quando tenha condições e recursos para os manter.

O segredo do design da sua quinta é ter uma visão plena da quinta no seu todo e no processo que implica para chegar lá, estabelecendo as prioridades e o processo orgânico de desenvolvimento do sistema desenhado.

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