Batatas – Propriedades e indicações terapêuticas
A batata (Solanum tuberosum) é uma planta perene da família das solanáceas.
Este tubérculo, quando fresco, possui cerca de 80% de água e 20% de matéria seca, da qual a maior parte é amido. A quantidade de proteínas da batata desidratada é comparável à dos cereais e é muito maior em relação a outros tubérculos e raízes. A batata possui pouca gordura sendo rica em micronutrientes, especialmente em vitamina C. Uma só batata com cerca de 150g, quando consumida com a casca, fornece quase metade da dose diária recomendada.
Como é rica em hidratos de carbono também é considerada uma excelente fonte de energia.
Possui vitaminas B1, B3 e B6, e minerais como o ferro, potássio, fósforo, cálcio e magnésio. Também contém fibras anti-oxidantes e dietéticas prevenindo assim doenças relacionadas com o envelhecimento.
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As batatas também contêm altos níveis de componentes tóxicos chamados glicoalcalóides. Geralmente estes compostos são encontrados em níveis baixos no tubérculo, e estão localizados só na parte debaixo da pele. Se a batata se tornar esverdeada indica níveis mais altos de glicoalcalóides.
Como estes compostos não são destruídos na cozedura, deve-se retirar a parte esverdeada caso contrário, 8 a 12h da ingestão pode provocar problemas gastrointestinais e nervosos. Dependendo da dose, pode levar à morte pois uma só batata se tiver esverdeada contém uma boa dose destas substâncias tóxicas.
É muito utilizada em culinária como acompanhamento de carnes e peixes, pode ser cozida, frita ou assada bem como também pode ser usada em purés e saladas.
Uma crença antiga Inca diz que:
“o Criador, Viracocha, provocou o sol, a lua e as estrelas a emergir do lago Titicaca. Este também terá criado a agricultura, quando mandou os seus dois filhos para o reino humano para estudar e classificar as plantas que ali cresciam. Estes ensinaram às pessoas como semear e como usá-las para que nunca lhes faltasse comida.”
A história deste tubérculo começa à cerca de 8 mil anos atrás na Cordilheira dos Andes, entre a Bolívia e o Perú, próximo do lago Titicaca. Segundo pesquisas comunidades de caçadores que entraram na América do Sul 7 mil anos antes começaram a “dominar” as espécies de batata selvagem que eram abundantes nestas regiões em torno do lago, aqui os agricultores tiveram sucesso na selecção e melhoramento deste vegetal. O que conhecemos hoje como batata é apenas um fragmento da diversidade genética encontrada nas sete espécies de batata reconhecidas, havendo mais de 5 mil variedades que ainda são encontradas nos Andes.
Apesar dos agricultores andinos terem tentado cultivar muitos outros alimentos como milho, feijão e tomate, as batatas em particular adaptaram-se ao “quechua” (zonas de civilização) ou zonas de vale, situadas a uma altitude entre os 3100 a 3500 metros nas encostas dos Andes centrais. Estes agricultores também conseguiram desenvolver uma variedade de batata que sobrevivia às geadas que ocorriam nas regiões acima de 4000 metros acima do nível do mar. Graças ao desenvolvimento de técnicas como irrigação e aterramento, nos cultivos de milho e batata, permitiram a expansão da civilização Wari, por volta do ano 500 D.C, nas terras altas da região de Ayacucho. Durante esta mesma época, surgiu próximo do lago Titicaca, a cidade estado de Tiwanaku graças à tecnologia sofisticada do “campo elevado” (áreas elevadas limitadas por canais de água). Esta técnica permitia a produção de cerca de dez toneladas por hectare. Acredita-se que por volta do ano 800 D.C. cerca de 500 mil pessoas habitavam esta cidade e os seus vales mais próximos.
O colapso das civilizações Wari e Tiwanaku levaram a um período de agitação que terminou com a ascensão dos Incas, no ano 1400 D.C., no vale de Cusco. Estes adoptaram e melhoraram as técnicas de cultura dos seus ancestrais, dando uma especial importância ao cultivo do milho. Mas o cultivo da batata não ficou esquecido e não deixou de ser fundamental para a segurança alimentar do império. Foram usadas como um dos principais alimentos utilizados para alimentar oficiais e soldados e como stock de emergência no caso de uma quebra de safra.
Em 1532 deu-se a invasão espanhola que acabou com o Império Inca. Os conquistadores espanhóis foram para esta região em busca de ouro, mas o tesouro que levaram foi a batata (Solanum tuberosum). Nesta região a batata sempre teve um papel central: o tempo era medido de acordo com o tempo de cozedura de um pote de batatas.
A primeira evidência de cultivo de batatas fora do sul da América aconteceu no ano 1565 nas ilhas Canárias. Em 1573 a batata passou a ser cultivada no território continental espanhol. Este foi o primeiro passo para que o tubérculo fosse enviado para toda a Europa como um presente exótico. E assim em 1597 começaram a ser plantadas em Inglaterra e logo enviadas para a Holanda e para a França.
Houve uma altura em que o interesse pela batata diminuiu drasticamente, a aristocracia europeia admirava as suas flores mas consideravam-na, somente, como alimento para pobres e animais. Mas o sucesso deste tubérculo rapidamente voltou com a Era dos Descobrimentos. Os navegadores apreciavam bastante este alimento levando-o para consumo durante as suas longas viagens. Assim, no início do séc. XVII, as batatas chegaram à Índia, China e Japão. A Irlanda também se mostrou bastante receptiva ao cultivo da batata pois esta mostrou grandes capacidades de adaptação a solos húmidos e temperaturas frias. Ainda neste século resolveram levá-las para a América do Norte ficando estas conhecidas como: batatas irlandesas.
Começam então a surgir as variedades adaptadas aos longos dias de verão numa época crucial. Em 1770 grande parte da Europa é devastada pela fome. Frederico II da Prússia ordena o plantio de batatas para caso houvesse uma quebra de safra dos cereais. Na mesma altura um cientista francês, Antoine Parmentier, declara a batata como um alimento seguro para o consumo humano. Do outro lado do Atlântico, Thomas Jefferson (3º presidente dos Estados Unidos) serve batatas fritas aos seus convidados na Casa Branca.
Inicialmente houve uma certa hesitação, mas logo os agricultores europeus começaram a plantar batatas em larga escala, sendo a sua produção uma reserva alimentar durante as guerras napoleónicas. Anos mais tarde, durante a Revolução Industrial, a batata torna-se um alimento conveniente por ser nutritivo, energético, fácil de ser cultivado em pequenas áreas e de ser adquirido, e também pronto a ser cozinhado de forma barata.
Diz-se que o consumo elevado deste vegetal, durante o séc.XIX, foi o responsável pela diminuição de doenças como o sarampo e o escorbuto havendo assim uma maior taxa de natalidade. Desta forma houve uma explosão populacional na Europa, Estados Unidos e Império Britânico.
Como não há bela sem senão, a maioria das batatas clonadas e cultivadas na Europa e na América do Norte faziam parte de um pequeno grupo de variedades geneticamente parecidas. Ou seja, se uma doença atingisse uma planta, todas as outras estariam susceptíveis ao mesmo mal. E assim foi, em 1844, o oomiceto Phytophthora infestans (vulgarmente conhecido por míldio da batata), devastou todas as plantações desde a Bélgica à Rússia. Entre 1845 e 1848, a batata na Irlanda fornecia 80% das calorias consumidas pela população que com esta doença levou à fome generalizada causando a morte a cerca de um milhão de pessoas. Devido a esta catástrofe, vários países uniram esforços para desenvolver variedades de batatas mais resistentes e produtivas.
A catástrofe irlandesa levou a concentração de esforços para desenvolver variedades mais resistentes e produtivas. Espécimes do Chile foram levadas para a Europa e América do Norte, sendo estas a maioria das variedades que conhecemos hoje.
Com o colonialismo e a emigração europeia a batata chegou a, ainda, mais partes diferentes do globo sendo consagrada como um alimento global no séc.XX.
Desta forma é vista como uma das soluções possíveis para acabar com a fome no mundo. Por exemplo, na China, cientistas propuseram que 60% das terras aráveis do país deveriam ser ocupadas por plantações de batatas. E nos Andes, onde tudo começou, continua a ser o cultivo mais importante da actividade agrícola próximo do lago Titicaca. Aqui a batata é conhecida por “Mama Jatha”, que significa “a mãe do crescimento”. Em 2008 o governo peruano resolveu criar um registro nacional de todas as variedades nativas da batata. Ajudando assim a conservar o património genético da espécie Solanum tuberosum.
Propriedades e indicações terapêuticas das batatas
- Partes utilizadas: folhas, flores e tubérculos;
- Analgésica local;
- Cicatrizante;
- Emoliente;
- Sedativa;
- Anti-inflamatória;
- Anti-ácida;
- Mineralizante
- Digestiva;
- Tosse: xarope de batata;
- Dores de estômago e azia: sumo da batata crua e ralada, ajuda a dissolver e a expulsar substâncias tóxicas contidas no aparelho digestivo (alívio rápido);
- Dores de cabeça: aplicar rodelas de batata crua nas fontes e na testa;
- Cãibras (pois é rica em potássio)
- Irritações e infecções cutâneas: aplicar rodelas de batata na zona afectada;
- Queimaduras leves: cataplasma
- Diarréia;
- Reumatismo;
- Convulsões;
- Escorbuto;
- Diabetes;
- Sistema nervoso;
- Nevralgias: cataplasma;
- Reduz a pressão arterial;
- Problemas intestinais: batata crua;
- Úlceras: sumo de batata crua;
- Picadas de insectos: batata crua e ralada aplicada na zona afectada;
- Furúnculos: batata cozida e amassada aplicada quente nas zonas afectadas ajuda a amadurecer os furúnculos;
- Limpeza de peças de vidro, prata e estanho.
Uso Externo:
- Cataplasma de batata crua e ralada plicada na zona afectada, 2 vezes por dia – Indicado em casos de queimaduras leves, nevralgias e dores de cabeça;
- Rodelas de batata crua – aplicar na zona afectada em casos de má circulação, artrite e frieiras.
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